quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

“O MEU” ou “O NOSSO”



Esse texto é fruto de uma inquietação que tive no 11º ENPJ, neste encontro aconteceu um espaço de Leitura Popular da Bíblia com uma galera incrível do CEBI. Nesta ocasião lemos e conversamos sobre o evangelho de Mateus 19, 16-22. O momento foi tão contagiante que resolvi escrever algumas linhas sobre minha análise do texto, se você espera algo surpreendente pare por aqui, não crie expectativas, pois não verá uma grande interpretação.
Espero não ofender nenhum expressão/movimento da Igreja Católica, assim como qualquer outra religião cristã. O meu desejo com esse texto é alertar aos pjoteiros e pjoteiras não perderem o mestre de vista, sem pastor não tem pastoral. Jesus e seus ensinamentos devem ser o guia de nossa ação evangelizadora e transformadora.
A pergunta do jovem rico a Jesus, “o que EU devo fazer para morar no céu? [Mt 19, 16] Uma pergunta que nunca deixou de ser feita, nosso egoísmo sempre se remete a tão sonhada vaga no paraíso. Será que a vontade de Deus é que nós individualizemos a salvação?
Jesus responde a pergunta do moço desse modo: “Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo” [Mt 19, 18-19]. Podemos observar que todos esses mandamentos só são possíveis de realização em grupo, nesta fala o mestre dá sinais, aponta caminhos a serem trilhados. Percebemos claramente que não é correto buscar para si, mas sim para o coletivo.
É muito mais fácil ser igreja pensando em si, é muito mais fácil viver pensando em interesses próprios, como dizem na minha terra natal “se a farinha é pouca, meu pirão vem primeiro”. Essa é a lógica dos Fariseus e Doutores da Lei de nossas paróquias que vão ao templo doar a Deus o que sobra do seu tempo e dinheiro, enquanto isso gritam sobre suas grandes ações e sua grande santidade. Devemos fugir destas práticas, essa é uma grande mancha do cristianismo, ou simplesmente hipocrisia.
A resposta de Jesus deve ecoar nos nossos grupos de jovens e em nós, pois devemos mostrar por onde andarmos que o reino é partilha, o céu é um dom dado a toda a comunidade. Neste momento é interessante fazer memória da viúva e suas duas, santas, moedas, pois Jesus não fala de uma hierarquia, mas apenas convida a seguir seus passos, sempre lembrando que somos iguais. Diante dessa igualdade social, o que realmente importa é a partilha, não o status ou poder financeiro. O mestre quer saber de nós se temos a capacidade de servir a um só senhor.
Infelizmente a tristeza daquele jovem chegou até nós e contaminou nossas leituras e interpretações da Bíblia quando não queremos ver que Jesus diz não as riquezas e propriedades e sim as pessoas. A preferência de Jesus pelo povo, pelo sacrifício, pela busca da justiça é desconsiderada nos nossos discursos e ações, porque a tristeza daquele jovem rico chegou até nós.
Como não pensar que aquela tristeza do jovem rico, que deixa Jesus e caminha em direção oposta ao mestre, chegou até nós? Se vemos em nossas Igrejas pessoas que se dizem seguidoras de Jesus (obviamente que não são verdadeiramente cristãs) defendendo a pena de morte; só se “preocupam” com as pessoas enquanto elas estão nos ventres maternos, depois não interessa mais, pouco importa se essa criança passa fome ou foi vendida pelos pais que passam fome; defendendo a redução da maioridade penal, pois é mais fácil prender ou blindar do que amar.
Quando nossa escolha não representa o acolhimento, mas sim o afastamento ou sofrimento do outro, estamos seguindo a tristeza do jovem rico e não o mestre. Jesus fez o convite, ele quer conviver conosco e que nós sigamos seus passos. No momento em que todos abandonarem seus vícios e propriedades, passando a prestar mais atenção e cuidado as pessoas, todos terão voz, vez e lugar na mesa e no reino.

Carlos Nunes
Pastoral da Juventude
Arquidiocese de Aracaju




“Na nova terra o negro, o índio e o mulato,
o branco e todos vão comer no mesmo prato.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário