terça-feira, 24 de abril de 2018


Jesus nos ensina, Não Temer!

O governo traiçoeiro que administra o Brasil, juntamente com todos os seus desmontes, reformas e PECs, inviabiliza cada dia mais a vida da classe trabalhadora desse país. Diante de um cenário tão sombrio é muito fácil perder a esperança ou não perceber alguma luz no fim do túnel, mas a tarefa cristã é, principalmente em momentos de tribulação, recorrer ao Mestre como inspiração para luta e auxílio na tomada de decisão sobre quais gestos precisam ser realizados.
A vida em sociedade é uma condição necessária para o ser humano, desde Aristóteles é muito claro que não há como viver fora do contato com outras pessoas. As relações em sociedade são reguladas por normas e leis que buscam evitar criação de danos a vida, dignidade e direitos do outro. Na prática, surgem pessoas que adquirem poder e usam-no para legalizar a opressão sobre determinados setores da sociedade, não só hoje, no tempo de Jesus também era assim, Ele conheceu a tirania do Império Romano e tem algo a nos ensinar, principalmente num Brasil em que os ricos buscam lucros cada vez maiores e não vêem como problema se o preço a pagar for o futuro da juventude brasileira ou o momento presente das frações sociais que vivem nas margens.
Ontem e hoje, os três poderes bebem o sangue da classe trabalhadora como se fossem vampiros adestrados pela burguesia nacional e internacional. A ordem é aumentar os lucros e baixar custos, principalmente devido à situação de crise econômica, então sem mais delongas aprovou-se o congelamento em investimentos em diversos setores públicos, a saúde e a educação são exemplos disso; aposentadoria será um item que só ouviremos falar; sem participação de estudantes e professores, sem discussão de verbas e sem verificação de viabilidade, o Ensino Médio caminha para um abismo, que é a sua “reforma”; a escravidão foi facilitada, isso no país que caminhava a passos largos no combate ao trabalho escravo, agora todos os avanços caíram por terra e a bancada ruralista, assim como os demais latifundiários desse país podem tranquilamente enganar, encarcerar e escravizar o camponês, além de tantos outros absurdos que os três poderes praticam todos os dias.
Os ricos gestaram a crise, mas os mais pobres que pagam a conta. As pessoas que cortam os direitos da maioria dos brasileiros são as mesmas que aumentam os seus privilégios, O que fazer diante disso? Existe alguma saída contra a tirania? Devemos calar? Devemos fugir? Enfim, Jesus pode nos ajudar a entender o que deve ser feito ou no mínimo apresenta possibilidades de ação no combate a injustiça.
            O Império Romano é marcado pela fome (Atos 11, 28) e pelo derramamento de sangue (Atos 12, 1-2) (Marcos 6, 27). A disseminação do caos, medo e morte não tinha idade mínima para os imperadores, pois até crianças sentiram a fome por poder e violência da espada do Estado (Mateus 2, 16). Neste contexto em que Cristo viveu, o povo foi subjugado a tal ponto que os soldados tinham o poder de ordenar que alguém carregasse objetos por mais de um quilômetro e bater nas pessoas como punição a possíveis desobediências (Mateus 5, 39–41), por esses exemplos é possível perceber o nível de crueldade sofrida pelos judeus.
            A brutalidade romana não se encerrava no uso da força dos seus exércitos, mas também estava no aspecto econômico do Império. A forma de organização da cobrança de impostos acentuava a desigualdade social, sem nenhuma piedade com os mais pobres (Mt 17, 24-27). O contato com sangue tornava uma pessoa necessariamente impura, adivinha quem tem contato mensalmente com sangue? As mulheres pobres estavam condenadas a marginalização (Mc 5, 25-34). Além do derramamento de sangue, os romanos desejavam o acúmulo de ouro.
            Jesus encontra-se na contramão desse cenário da busca por poder e ouro, Ele não legitimava as injustiças e cuidava dos injustiçados; seus gestos representam a resistência pacífica aos opressores (Mateus 5: 38 – 41). O cultivo do ódio e rancor não está presente na proposta semeada por Cristo, n’Ele temos o amor e o perdão como força motriz dos pensamentos e ações (Mateus 6: 9-15).
            O mesmo Cristo que convida ao amor e perdão também ensina a não viver acorrentados ou orientados por uma força corrupta e injusta. Jesus enfrentou o poder romano porque não tinha medo dele (Mateus 14, 22-33). A força tirânica imperial vinha através das águas e Ele as encarou. Assim como Pedro, somos questionados se viveremos temendo e nos acostumando a sermos vítimas de maus governantes.
            A lei que nasce da injustiça não serve aos propósitos de Cristo, ele as subverte (João 8, 1 – 11). As leis devem servir para construção de uma sociedade mais justa (Marcos 2, 27) de modo a que todos tenham vida plena e abundante (João 10, 10). Devemos aprender com Jesus, não seguir ou legitimar líderes que não se apóiam no amor, justiça e o bem comum. Os ensinamentos do Mestre nos orientam a fundar um novo tipo de sociedade regulada pela fraternidade e cuidado.
            Um grande homem de prática cristã, Martin Luther King, nos ensina que temos a obrigação de desobedecer às leis injustas, assim como Cristo fez. O Brasil é um ônibus que caiu da ponte, mas só os pobres saíram gravemente feridos do “acidente”.
            Diante da barbárie romana, Cristo revoluciona as leis e não abaixa a cabeça mesmo quando foi preso e torturado, buscou o fim da exploração humana e a possibilidade de que a vida feliz fosse possível para todos, principalmente para os que se encontram a margem (Mateus 11, 28 – 30) (Lucas 4, 18-19). Frente à crueldade de Temer e seus aliados, devemos subverter a lei, perturbar o juízo dos três poderes, tirar o sossego daqueles que assumiram o poder para destruir a vida e o futuro dos brasileiros, principalmente das pessoas que estão nas situações de maior precarização.
            A obrigação de quem acredita na proposta de Cristo é não temer ou tremer diante do opressor, não aceitar correntes, não silenciar quando presenciar a injustiça e testemunhar uma sociedade em que todos são livres e iguais (Rm 10, 11-12) (Gl 3, 28-29). Temer, suas PEC’s e reformas, são representação do oposto da oferta que Jesus nos faz. Não devemos tolerar esse governo e seus desmontes, assim como precisamos buscar saídas para enfrentá-lo.

Carlos Nunes
Professor de Filosofia
Articulação da Pastoral da Juventude - Sergipe